quarta-feira, 26 de março de 2008

Email ao Sid Clapis - 24 de março de 2008

(o reply do gmail, a cultura e a transmissão da técnica, a lingua, os índios Tupy, a comunicação e arte)

[...] Estou muito curioso para saber dessas suas novas idéias...
acho q o gmail devia ter um recurso de resposta de email longo que associasse a mensagem recebida com a resposta. Assim eu poderia escrever numa janela ao lado ao invés de embaixo e vc poderia saber exatamente a que estou me referindo. E, principalmente, eu me lembraria das inúmeras perguntas que foram surgindo durante a leitura. Bom, talvez haja algo enriquecedor nesse jeito arcáico. Os Jeito tradicionais de se fazer as coisas sempre têm um ensinamento utilíssimo que se aplica a numerosas outras coisas na vida. Por exemplo: se eu lesse emails grandes com freqüência provavelmente teria uma memória melhor para saber o q comentar depois. Bem, já quem eu não leio... tenho uma capacidade imensa de evasão do assunto. De modo que fiz uma bela introução para um outro assunto: existe um ensinamento muito grande em todas a pequenas coisas de uma cultura. O modo de se fazer uma dada tarefa, principalmente as mais simples, é completamente atrelado a todos os outros aspectos da vida cotidiana ( da vida cotidiana da época em que aquilo começou a ser feito). É claro que as coisas mudam com o tempo, conforme a necessida. A necessidade faz surgir a maioria das coisas e a maioria das mudanças. Porém, se uma coisa está funcionando bem do jeito q está, nunca vai mudar. O elemento mais representativo de uma cultura - e por conseguinte do modo de se fazer as coisas acumulado - é a Lingua. Por esse mesmo motivo supra citado (não sei se escreve-se assim mesmo ou é junto, essa palavra me veio a mente agora e quer dizer, muito provavelmente vc sabe: citado acima). "Supra citado" é um exemplo de expressão que cai em desuso, talvez, exceto no ramo jurídico. Uma expressão, uma técnica, um traço cultural qualquer desaparece quando deixa de ser útil, cotidano e prático. Mas continuando a frase acima: "Por esse mesmo motivo supra citado"... os índios Tupy (índios caramujos que atulmente estão no RJ mas que vivem rondando com a tribo toda pelo Brasil e terras adjacentes). "Por esse mesmo motivo supra citado os índios Tupy " ... (agora vai) têm a Língua com uma dimensão do ser humano. Tal como outras crenças têm alma e espírito cada ser Tupy tem uma Lingua, a saber o Tupy. E foi essa visão deles que me deu esse ponto de vista: a Lingua guarda toda a história da civilização que a utilizou. Não só uma história morta, mas principalmente uma história, prática (pragmática), de uso, de um povo que usou durante milênios o idioma como ferramenta para: comunicar-se com os colegas de trabalho, com os colegas de escola, comunicar-se com o pai, a mãe, os irmãos e demais familiares, comunicar-se com a namorada, comunicar-se com os amigos, comunicar-se com a prefeiruta, com os comerciantes, com os animais, com as autoridades e com os ébrios da rua. A ligua foi utilizada, maltratada e concerta em relação a Deus Sabe o Quê etc. De forma que em milênios, talvez milhões de anos (é o mais provável) sons e suas notações escritas transmitiram o sentimento do homem em relação ao mundo e às outras criaturas. Desde os zumbidos do primeiros homens que pareciam com macacos até os mais conteporâneos que parecem com frangos, passando por aqueles que se pareciam com bois, cavalos e outros bichos. A lingua ajudou o homem a viver, sobreviver, transmitir conhecimento e por conseguinte produzir mais conhecimento com base naquilo que já se conhecia e foi comunicado pelas gerações anteriores. (Leipzig(ou seja lá como se escreva) tem uma importância histórica absurda na escrita). Mas principalmente pessoas amaram, sofreram, choraram, contram suas dores de cotovelo e celebraram as alegrias com a sua ligua e por mais meloso que isso pareça isso é o traço mais marcante do ser humano e foi revelado pela cultura: "o ser humano é um ser social". Confesso que na quarta-série, 1994, eu tinha 9 anos e disse pra minha professora de catessismo, Irmã Helena, que entendi essa frase(que era o resumo da aula), mas eu não tinha entendido absolutamente nada e por isso eu lembro tão bem. Algum filósofo alemão, que não lebro o nome transmmitiu através desse idioma que vc está falando que ao "perceber-se diferente do resto da natureza, o homem se sentiu só". Ora, sentindo-se só, talvez por instindo de sobrevivência o homem vai ao encontro dos outros homens e principalmente vai ao encontro das mulheres. Mas como comunicar que ele se acha DIFERENTE, e talvez essa tenha sido a primeira palavra abstrata (a concreta pode ter sido algo com "haaaan" que na verdade era mais um bafo quente e queria significar fogo). De modo que o homem quer anular essa diferença em relação ao mundo a sua volta, quer comunicar-se ao outro e quer saber do outro e espera se encontrar lá(nele, nela, neles, nelas). Esse segundo motivo é o que eu chamo de arte e é por isso que eu escrevo. Alguns chamam de arte o primeiro motivo. São bem semelhante e muitas vezes acabam dando no mesmo. Na verdade eu escrevo pq não sei fazer música, até sei fazer letra, baseado em melodias que geralmente eu invento, mas não sei tocar e fica só a letra mesmo. E qual era o tópico inical desse parágrafo mesmo? Me esqueci das pergutas que iria fazer em relação ao seu email. [...]

Tiago Buarque

3 comentários:

cabeça disse...

Putz...escrevi um comentário longo aqui mas a net caiu e perdi!
Vou resumir:
Gostei da parte que você diz que as coisas são feitas como um reflexo da sabedoria popular. Gosto dessa idéia e até me lembrou uma conversa que tinha sempre com Sid (eu defendia e Sid não concordava) baseada em uma coisa que Silvio Meira nos disse em uma aula nos nossos primeiros anos de faculdade: O mundo é o melhor que poderia ser. Até extendi essa idéia associando o fato de que 'as coisas são feitas da melhor forma possível'. Existe outro dito popular que diz que 'nada é por acaso ou em vão' mas geralmente associam isso a um fator religioso que não concordo. Bem, ultimamente também tenho pensando mais sobre isso, uma implecação darwi-evolucionista mas ainda preciso de algumas cervejas para amadurecer estas ideias.
Bem, vou trabalhar que tenho muito a fazer...

Tiago Buarque disse...

Caro cabeça,
gostei muito dessa sua visão da agricultura de idéias que amadurecem com cerveja. Me chame para essa experiência de irrigação.

rcsdnj disse...

Aê,

Fiquei viajando nessa questão do ser humano querer anular a diferença (e, se compreendi corretamente, buscar isso com a arte)...

A idéia de buscar comunicação e anular essa diferença soa bem interessante realmente... mas identificação com alguma coisa pode comumente implicar a diferenciação com outras coisas...

Ok, o ponto é não ficar só e identificar-se ao menos com alguma coisa., algum subgrupo.. mesmo assim... me dá um sentimento de problema do tipo cobra engolindo o rabo, autocontraditório...

Não é que isto seja realmente relevante em relação à idéia que se quis passar... mas é que é curioso pra mim, porque nesse paradoxo é que me sinto muitas vezes.