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Outro dia, numa festa de despedida de um amigo, tive a oportunidade de conversar com uma professora da minha universidade. Ela foi minha professora no começo da graduação. Agora estou no mestrado e tenho uma aluna de IC (iniciação científica) a quem tento dar alguma orientação – já para eu ir treinando para professor. Acontece que essa professora ganhou a fama – se justa ou injustamente, não posso afirmar – de exigir demais dos alunos de IC dela. Eu estava falando de como eu requisito muito pouco da menina que trabalha comigo. Não sei se foi impressão minha, mas achei que a professora se sentiu um pouco chocada.
Estamos, todos dessa história, na área de tecnologia. Então associo essa exigência toda com a corrida tecnológica do ocidente. E associo o alto grau de tecnologia a que chegamos com a ironia da degradação acelerada da natureza.
O aquecimento global, como outras catástrofes naturais contemporâneas, são eventos naturais. Não são necessariamente culpa da ação humana, acredito. Mas suponho que, sim, a humanidade tem acelerado, e talvez até ampliado o poder dessas tragédia, por não cooperar com o ecossistema.
O alto grau de tecnologia que alcançamos acelera e amplia os desastres naturais. Esse mesmo conhecimento permite reverter a situação. O irônico é que, a despeito disso tudo, ninguém vai salvar o mundo. A parcela dos responsáveis que quer esse salvamento ainda é muito fraca, enquanto aqueles que agridem a natureza não dão muita atenção ao problema.
O problema das pessoas não é de forma alguma falta de tecnologia. E nosso desastre ecológico é um contra-exemplo para quem pensa o contrário. O problema é a falta do senso de coletividade. É a falta de se importar com os outros. É a falta de se importar consigo mesmo. Quando uma pessoa consegue gostar muito da sua vida, ela percebe a vida dos outros também é muito valiosa. Se, ao invés de, a humanidade, ter evoluído em termos tecnológicos, tivesse evoluído em aspectos de auto-conhecimento, relacionamentos interpessoais, felicidade individual e coletiva, poderíamos não ter tecnologia suficiente para salvar o mundo do curso da natureza, mas conseguiríamos nos ajudar e talvez até salvarmo-nos a todos através da cooperação.
Não quero culpar a ninguém por tentar concentrar para si a riqueza do planeta, talvez eu fizesse o mesmo se tivesse a oportunidade. Nem quero dizer que sou, ou que conheço alguém que seja, pronto a cooperar para o bem de todos.
Quero com isso dizer que o que vale a pena é ser feliz. E se conseguir ser feliz naturalmente você vai querer que os outros também sejam felizes. Aliás a alegria faz com que a gente tenha raciocínios mais claros e mais lógicos, enquanto a tristeza confunde a gente demais. De modo que fazemos as coisas mais bem feitas quando estamos alegres – por favor ninguém confunda com algazarra.
No mais vale citar aqui a antiga conjectura para religiosos e ateus do sentido da vida. Suponha que exista Deus, o que todos querem é ter a consciência tranqüila de que fizeram o máximo possível de coisas certas e portanto tiveram motivos para se alegrar em vida. Suponha que não exista Deus, o que todos querem é ter a consciência tranqüila de que fizeram o máximo possível de coisas certas e portanto tiveram motivos para se alegrar em vida.
Caros amigos, ricos e pobres, sábios e imbecís, da tecnologia, das humanidades, da saúde, do povo, das artes, esforcemo-nos. Não podemos evitar a morte e um monte de coisas mais. Mas podemos gostar mais de estar vivos
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